Jornadas Épicas: As músicas mais longas de 16 bandas do Metal Nacional
- Beto Conde
- há 3 dias
- 14 min de leitura
A grandiosidade sempre foi um dos pilares do Heavy Metal, que se destaca por sua capacidade de explorar emoções intensas, narrativas complexas e atmosferas épicas. Entre as muitas formas com que o Metal expressa essa amplitude, poucas são tão simbólicas quanto as composições de longa duração, verdadeiras jornadas que desafiam o tempo convencional de produções mais comerciais e radiofônicas e mergulham o ouvinte em experiências imersivas e cinematográficas, muitas vezes transformadoras.

É comum que as maiores bandas da história do Metal tenham ao menos um grande épico em seu repertório. Do Iron Maiden, com "Empire of the Clouds" (18:01) e "Rime of the Ancient Mariner" (13:42) ao Metallica, com "Innamorata" (11:10) de seu álbum mais recente, do Classic Rock do Led Zeppelin em "In My Time of Dying" (11:08) ao Metal Extremo e Progressivo do Death em "Flesh and the Power It Holds" (8:27).
No cenário do Metal Nacional, diversas bandas vêm apostando nessas composições extensas para expandir suas fronteiras artísticas, revelando maturidade musical, criatividade e domínio técnico. Nesta matéria selecionamos as faixas mais longas de 16 bandas clássicas ou emergentes do cenário do Heavy Metal Nacional. Ouça as músicas na playlist ao final da matéria.
Observação: A lista só inclui faixas de estúdio presentes no tracklist regular dos discos.
Banda: Angra
Música: "Carolina IV"
Álbum: "Holy Land"
Duração: 10:35
Ainda que o Angra tenha incorporado cada vez mais elementos progressivos em sua sonoridade ao longo dos anos, especialmente a partir do aclamado "Temple of Shadows" (2004), e que temas mais longos tenham se tornado uma constante em sua discografia, é em "Holy Land" (1996), seu segundo álbum de estúdio, que encontramos a música mais extensa da carreira da banda: "Carolina IV", com 10 minutos e 35 segundos de duração.
A faixa funciona como uma verdadeira síntese do conceito e da identidade musical do disco, reunindo com naturalidade o peso do Power Metal, a riqueza melódica característica do grupo e as ousadas experimentações com elementos da música brasileira. Sua estrutura grandiosa e multifacetada acompanha uma narrativa profundamente conectada ao processo de descobrimento e colonização (invasão!) do Brasil, abordando os choques culturais, espirituais e existenciais entre os povos originários e os colonizadores europeus, tornando-se uma das músicas mais emblemáticas da história do Metal Nacional.
Banda: Sepultura
Música: "Inquisition Symphony"
Álbum: "Schizophrenia"
Duração: 7:14
Embora "Canyon Jam", do álbum "Roots" (1996) com seus 13 minutos e 19 segundos, seja tecnicamente a faixa mais longa da discografia do Sepultura, sua natureza de improviso instrumental e altamente experimental, como o próprio nome sugere, faz com que ela não seja considerada aqui como referência principal. Em vez disso, a música mais extensa e estruturalmente representativa da trajetória da banda é "Inquisition Symphony", com 7 minutos e 14 segundos, presente no icônico álbum "Schizophrenia" (1987).
Apesar de também se tratar de uma faixa instrumental, "Inquisition Symphony" possui uma construção muito mais definida e coesa, funcionando quase como uma suíte que encapsula a identidade do Sepultura em sua fase inicial, algo similar ao que o Metallica fez em "The Call of Ktulu" e "Orion".
Banda: Shaman
Música: "Fairy Tale"
Álbum: "Ritual"
Duração: 6:56
Mesmo adotando uma abordagem mais direta e pesada em relação aos primeiros álbuns do Angra, o Shaman nunca abriu mão da complexidade e da grandiosidade em suas composições. Apenas no primeiro álbum, "Ritual", de 2002, cinco das faixas ultrapassam os seis minutos de duração. Uma delas, a composição mais longa da discografia da banda, é também seu maior clássico, "Fairy Tale", com 5 minutos e 56 segundos de duração.
Vale destacar que "The Yellow Brick Road", faixa de encerramento do álbum "Immortal" (2007), lançado na segunda fase da carreira do Shaman, ultrapassa os oito minutos de duração. No entanto, por conter longos trechos dedicados exclusivamente a ambientações experimentais, que ocupam mais da metade de sua extensão, optamos por não incluí-la como destaque principal nesta lista.
Curiosamente, apesar de sua duração, "Fairy Tale" se tornou o maior sucesso do grupo, rompendo as fronteiras do Heavy Metal e alcançando grande notoriedade ao integrar a trilha sonora da novela "O Beijo do Vampiro", exibida pela TV Globo. Com uma estrutura suave, melancólica e introspectiva, diferente do peso predominante no álbum, sua letra aborda o fim da inocência e a desconstrução dos sonhos idealizados da juventude, narrando a trajetória de alguém que, ao perder as ilusões, é forçado a encarar a dor, a solidão e o desafio de se reconstruir.
Banda: Ready to be Hated
Música: "For the Truth"
Álbum: "The Game of Us"
Duração: 7:27
Apontada por muitos fãs como o ponto alto do álbum de estreia da mais nova banda de Luis Mariutti, "For the Truth!" ocupa uma posição estratégica no centro do disco, funcionando como um elo simbólico e sonoro entre os dois pilares que sustentam a identidade do Ready to be Hated: a conexão profunda com as raízes da música brasileira e a abordagem pesada, moderna e vigorosa do Metal contemporâneo. Nesta faixa, o talento individual e a sinergia coletiva de quatro músicos experientes — Luis Mariutti, Thiago Bianchi, Fernando Quesada e Rodrigo Oliveira — são levados ao limite, resultando em uma composição que reafirma a força criativa e a relevância do grupo como um dos nomes mais promissores e impactantes do cenário nacional atual.
Com arranjos marcantes e uma interpretação visceral, "For the Truth!" transforma-se em um verdadeiro hino de resistência e integridade. A letra retrata a angústia e o isolamento causados por um mundo mergulhado em mentiras, falsidades e distorções, mas revela também a força interior de quem escolhe trilhar o caminho da verdade, mesmo que ele seja doloroso e solitário. A canção enaltece a honestidade como uma virtude inegociável, posicionando-a como luz capaz de romper a escuridão. Com uma abordagem combativa, emocional e inspiradora, a faixa transmite uma poderosa mensagem: a verdade sobrevive, resiste e, com coragem, sempre encontra um caminho.
Banda: Age of Artemis
Música: "God, Kings and Fools"
Álbum: "Overcoming Limits"
Duração: 9:24
Ainda que "Overcoming Limits" (2011) seja considerado por muitos fãs o álbum mais icônico dos brasilienses da Age of Artemis, o disco de estreia da banda é cheio de experimentações que viriam a definir a identidade do grupo. Ao longo dos anos, a banda incorporou cada vez mais elementos da música brasileira à sua proposta, tornando sua obra mais madura e representativa. Ainda assim, é justamente a espontaneidade presente no debut que o torna um marco importante para o Metal Nacional.
A diversidade e riqueza desse trabalho inicial se manifestam de forma exemplar em sua faixa mais longa, "God, Kings and Fools". A canção é um verdadeiro épico, revelando a plena capacidade criativa da banda ao unir longas passagens instrumentais elaboradas, arranjos grandiosos e uma narrativa impactante. A letra retrata um mundo em colapso, dominado por líderes corruptos, guerras e sofrimento, onde a decadência moral e social da humanidade é exposta de forma contundente. Em meio ao caos, surge uma mensagem de superação: apenas os mais fortes resistem. A segunda metade da música traz uma virada emocional, propondo autoconhecimento, coragem e aceitação como caminhos para a reconstrução interior. A dualidade entre destruição e esperança dá à composição um tom cinematográfico e profundamente humano, que equilibra crítica social com força motivacional.
Banda: Crypta
Música: "Stronghold"
Álbum: "Shades of Sorrow"
Duração: 6:15
A faixa mais curta de nossa lista (Ainda assim com mais de seis minutos de duração) é "Stronghold", da banda de Death Metal, Crypta. Embora o grupo não seja conhecido por composições extensas, a complexidade estrutural e a intensidade de sua obra se manifesta de forma distinta em relação ao caráter épico das vertentes mais melódicas do Metal.
Combinando brutalidade e sensibilidade, "Stronghold" mergulha o ouvinte em uma atmosfera densa e sufocante, onde riffs poderosos, solos comoventes e melodias soturnas se entrelaçam para amplificar o desconforto proposto por sua letra. A música aborda a paralisia provocada pela ansiedade e pelo medo, retratando o dilema entre autopreservação e aprisionamento emocional. Mesmo envolta em uma estética extrema, a faixa carrega uma profundidade rara e sensível, evidenciando como o sofrimento pode nascer de cenários internos criados pela mente, tornando-se tão ou mais doloroso do que qualquer ameaça concreta.
Banda: Krisiun
Música: "Shadows of Betrayal"
Álbum: "The Great Execution"
Duração: 8:39
O Krisiun não é uma banda particularmente conhecida por composições extensas, mas um olhar atento à sua vasta discografia revela que, mesmo dentro de sua abordagem veloz e agressiva, a banda frequentemente explora faixas com mais de 6 minutos de duração. Neste aspecto, o álbum "The Great Execution" (2012) tem especial destaque, com nenhuma de suas 10 faixas ficando abaixo de 5 minutos. A maior delas, a faixa de encerramento do disco, "Shadows of Betrayal", com 8 minutos e 39 segundos, mostra a banda experimentando elementos pouco comuns em sua discografia, como andamentos mais lentos, arranjos dramáticos e longas passagens instrumentais, fugindo do padrão mais direto e frenético que consagrou a banda.
A música carrega uma carga lírica intensa e sombria, expressando uma reação brutal à traição, à hipocrisia e à autoridade corrupta. Em meio a metáforas violentas e imagens simbólicas, o eu lírico assume a figura de uma força punitiva implacável, representada pela serpente que se aproxima para cobrar o preço da mentira. A faixa denuncia estruturas baseadas na dominação, na manipulação e na moralidade falsa, onde a justiça não vem pela redenção, mas pela dor. Um épico sombrio que marca a maturidade criativa de uma das maiores instituições do Death Metal mundial.
Banda: Finita
Música: "God's Will"
Álbum: "Above Chaos" [EP]
Duração: 7:07
A carga dramática e a proposta conceitual grandiosa presentes na sonoridade da Finita exigem composições que extrapolem os formatos tradicionais, apostando em estruturas épicas e atmosferas densas. Com uma identidade forjada na fusão entre Metal Extremo, Elementos Sinfônicos e diversas camadas sonoras adicionais, a banda gaúcha demonstra não apenas competência técnica, mas também uma impressionante maturidade criativa. Isso fica evidente em seu recém-lançado segundo álbum de estúdio, no qual, à exceção de introduções e interlúdios, todas as faixas são longas, densas e construídas com atenção aos mínimos detalhes.
No entanto, é no EP "Above Chaos" (2022) que encontramos a composição mais longa da discografia da banda: "God's Will". Com um andamento cadenciado e uma abordagem quase cinematográfica, a música conduz o ouvinte por diferentes ambientações e variações rítmicas que refletem sua narrativa simbólica e espiritual. A letra retrata um embate intenso entre criador e criatura, onde a dor, a traição e a superação servem de catalisadores para a metamorfose de um ser submisso em uma entidade divina. Trata-se de uma jornada de ascensão, marcada por conflitos internos e transcendência, que reforça o caráter conceitual e artístico da proposta da banda.
Banda: Aeon Fracture
Música: "Shifting Flames"
Álbum: "In Te Spem Ponimus"
Duração: 9:58
Criar músicas longas não é nenhuma novidade para a banda de Prog Metal, Aeon Fracture, na verdade, essa é uma de suas maiores virtudes. Em seu segundo álbum de estúdio, "In Te Spem Ponimus" (2024), a banda explora ao máximo esse formato: são 22 faixas que ultrapassam duas horas e meia de duração, com nada menos que 13 músicas com mais de 7 minutos. Entre elas, "Shifting Flames" se destaca, com quase 10 minutos de uma jornada musical que atravessa diferentes atmosferas e sonoridades. A faixa é construída com cuidado, longe da pressa ou fórmulas prontas, em total oposição à lógica imediatista e descartável que domina o mercado musical contemporâneo.
A canção retrata o processo doloroso de desilusão de alguém que acreditava em valores como justiça, verdade e boas intenções, mas que vê esse idealismo ruir diante da hipocrisia e da crueldade do mundo real. A letra acompanha essa queda gradual, revelando como sonhos podem ser erguidos sobre mentiras e como sistemas corrompidos sustentam falsas esperanças. Com metáforas intensas e sensibilidade lírica, "Shifting Flames" se impõe como uma crítica contundente à ilusão de justiça em um cenário onde aparência e manipulação predominam.
Banda: Tchandala
Música: "I Don't Believe"
Álbum: "Fantastic Darkness"
Duração: 9:19
Na estrada desde 1996, a banda sergipana Tchandala construiu uma trajetória sólida e respeitada dentro do Metal Nacional, marcada por uma discografia vasta e consistente. Ao longo de quase três décadas de atividade, tornou-se comum encontrar em seus álbuns composições longas, ricas em complexidade e elaboradas com uma sensibilidade única, que incorpora elementos da música nordestina ao Heavy Metal. Esse diálogo entre raízes culturais e peso sonoro confere à banda uma identidade autêntica e emocionalmente intensa.
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa proposta é "I Don't Believe", faixa com 9 minutos e 19 segundos, presente no álbum de estreia "Fantastic Darkness" (2002). Escrita em uma época de recursos mais limitados, a canção carrega uma brasilidade pungente, que ganha novos contornos em sua versão acústica, regravada no EP "Ropes and Skins" (2024). Sua letra aborda o confronto entre a desilusão e a necessidade de retomar o controle da própria vida, refletindo sobre a força interior necessária para resistir ao colapso emocional. A faixa propõe uma mensagem de superação e autoconfiança, rejeitando a espera passiva por mudanças externas em favor da ação e da escolha consciente como caminhos para a reconstrução pessoal.
Banda: Auro Control
Música: "Breaking Silence"
Álbum: "The Harp"
Duração: 7:27
Faixa de encerramento do monumental "The Harp" (2024), álbum de estreia da banda baiana de Prog/Power Metal, Auro Control, "Breaking Silence" atua como uma ponte conceitual entre o que a banda apresentou em sua estreia e os caminhos artísticos que promete seguir em trabalhos futuros. Funciona como um desfecho que não apenas conclui, mas também prolonga o impacto do disco, sugerindo continuidade em uma narrativa musical que desde o início se mostra audaciosa, sofisticada e coerente. "The Harp" é uma obra completa, densa e cativante, e "Breaking Silence" é o epílogo perfeito para suas dez faixas, reunindo a força emocional, o virtuosismo técnico e a sensibilidade artística que definem o álbum.
Com a participação especial de Thiago Bianchi — também responsável pela produção do disco — a faixa se desdobra de maneira orgânica, sem pressa, respeitando o tempo necessário para que cada elemento se revele com intensidade e propósito. Sua letra mergulha nas emoções de quem tenta reconstruir a própria voz após a dor de um relacionamento rompido, marcado por silêncios, mágoas e ausência de reciprocidade. O eu lírico, envolto em arrependimentos e memórias desvanecidas, busca romper o isolamento emocional para recuperar a autenticidade perdida. "Breaking Silence" é, assim, mais do que uma canção de término: é um manifesto pela vulnerabilidade, pela reconexão e pela cura — elementos fundamentais no universo poético e musical da Auro Control.
Banda: FireWing
Música: "Time Machine"
Álbum: "Resurrection"
Duração: 7:57
Com um universo conceitual próprio à sua disposição, construído de forma detalhada pelo guitarrista Caio Kehyayan, era inevitável que a sonoridade da FireWing tomasse proporções épicas, refletindo a profundidade da história que a banda se propõe a contar. Repleta de camadas, elementos sinfônicos, passagens orquestrais e arranjos complexos, a música da FireWing transita por paisagens grandiosas e cinematográficas, onde o Power e o Prog Metal se entrelaçam com uma narrativa rica em mitologia e simbologia. Em seu álbum de estreia, "Resurrection" (2021), quase todas as faixas possuem uma estrutura mais longa, e entre elas, "Time Machine" se destaca como a maior delas, cuja versão com o novo vocalista Jota Fortinho ganhou ainda mais peso e dramaticidade.
"Time Machine" transporta o ouvinte diretamente para o coração da primeira grande guerra entre os Eons e Vishap, figuras centrais no lore da FireWing. A mitologia da banda é inspirada principalmente na história e nas tradições da Armênia e da Grécia, mas se expande para incluir elementos de diversas culturas do mundo. Um dos pilares conceituais do grupo está no resgate simbólico do genocídio armênio de 1915 — que vitimou mais de 1,5 milhão de pessoas — e na exaltação da figura de Vahagn, o Rei Guerreiro da dinastia Orôntida, deificado por seus feitos heroicos na luta contra dragões (Vishap). Nesse contexto, a música destaca valores de coragem, resistência e espiritualidade em uma verdadeira odisseia musical, que a cada audição ganha novas nuances e percepções.
Banda: Trend Kill Ghosts
Música: "Deceivers"
Álbum: "Kill Your Ghosts"
Duração: 6:36
Uma das primeiras músicas lançadas como single pela Trend Kill Ghosts, "Deceivers" é também a música mais longa da discografia da banda. Presente no álbum de estreia "Kill Your Ghosts" (2019), a canção demonstra como o Power Metal, quando bem executado, é capaz de entregar uma composição grandiosa e tecnicamente impecável sem necessariamente recorrer a orquestrações ou artifícios cinematográficos. Baseada exclusivamente na força criativa e no entrosamento de seus integrantes, "Deceivers" atesta a maturidade musical da banda logo em seu primeiro trabalho.
"Deceivers" faz uma crítica direta à hipocrisia religiosa e ao uso da fé como ferramenta de manipulação, questionando a sinceridade de fiéis que aparentam bondade enquanto espalham medo e ódio, apontando que as escrituras e regras seguidas são criações humanas e muitas vezes distorcidas. A música denuncia líderes religiosos que prometem salvação, mas levam ao sofrimento, vendendo falsas esperanças enquanto exploram seus seguidores. Com tom rebelde e provocador, a canção conclama à resistência contra essas mentiras disfarçadas de fé, defendendo uma espiritualidade mais consciente e livre de opressão.
Banda: Orizzon
Música: "Scream"
Álbum: "Inner"
Duração: 7:58
Faixa de encerramento do álbum de estreia da Orizzon, "Inner" (2024), "Scream" impressiona ao elevar a proposta da banda a um novo patamar de composição, complexidade e intensidade. Reunindo os elementos apresentados ao longo do disco, a música mostra uma banda segura de sua identidade, mas pronta para dar um salto artístico rumo ao futuro. A impressão é de que, com “Scream”, a Orizzon alcança um ponto de maturidade notável já em seu primeiro trabalho. Se considerada junto ao interlúdio “Prelude to War”, que a antecede de forma épica e dramática, a faixa ultrapassaria os 9 minutos de duração, consolidando-se como um dos momentos mais marcantes do disco.
Na letra, "Scream" usa o cenário da guerra como metáfora para os momentos mais extremos da vida, quando não há mais espaço para hesitação ou fraqueza. Em meio ao caos, ao medo e à iminência da morte, o grito deixa de ser expressão de desespero e se transforma em um gesto de resistência e afirmação. A música reflete sobre o confronto com a própria vulnerabilidade e a brutalidade das escolhas impostas pela realidade. O “ponto zero” representa o instante decisivo, em que tudo recomeça — com violência, dor, mas também com coragem e força de vontade. É um chamado à superação diante do colapso.
Banda: Gypsy Tears
Música: "Before I Die"
Álbum: "Blue Bird"
Duração: 6:30
Mesmo com uma sonoridade fortemente influenciada pelo Hard Rock e pelo Rock Clássico de bandas como Deep Purple e Led Zeppelin, os mineiros do Gypsy Tears demonstram uma amplitude musical que vai muito além dos rótulos. Incorporando elementos que vão do Blues ao Rock Progressivo, chegando até mesmo ao Heavy Metal, o quarteto constrói uma identidade única e autêntica. Essa abordagem plural enriquece sua obra e permite que suas composições acompanhem a profundidade temática de suas letras, fugindo das fórmulas previsíveis que muitas vezes limitam o estilo. A autenticidade da banda é perceptível em cada detalhe, e sua espontaneidade resulta em uma experiência honesta, prazerosa e envolvente.
"Before I Die", faixa mais longa do álbum "Blue Bird" (2024), é uma prova concreta dessa abordagem. Alternando entre momentos de energia crua e visceral e passagens introspectivas e melancólicas, a música flui com naturalidade entre suas diferentes atmosferas e variações de andamento. A letra é uma crítica direta a crenças dogmáticas que desvalorizam a vida ao pregar que só encontraremos algo bom após a morte, como se a existência fosse meramente um período de penitência. O eu lírico, por outro lado, rejeita essa visão: ele quer viver, experimentar, voar antes de morrer. Em um segundo plano, a canção também pode ser interpretada como uma reflexão sobre o reconhecimento tardio, a tendência de só celebrarmos heróis e virtudes depois da morte. A pergunta implícita é direta: por que não aplaudir enquanto ainda há vida?
Banda: Renan Collatto's Agathos
Música: "The Red Storm, Pt. 2"
Álbum: "The Red Storm, Pt. 2"
Duração: 30:57
A música mais longa da nossa lista ultrapassa a impressionante marca de 30 minutos de duração. Por questões burocráticas e mercadológicas, precisou ser dividida em nove partes para integrar o álbum, mas sua concepção original corresponde a uma única composição de 30 minutos e 57 segundos, que ainda deverá ser lançada futuramente em sua forma integral.
"The Red Storm, Pt. 2" é a faixa-título do segundo álbum de estúdio de Renan Collatto's Agathos, um ousado trabalho conceitual baseado em O Crânio e o Corvo, segundo volume da célebre Trilogia da Tormenta. O universo de Tormenta é uma das criações mais ricas da fantasia nacional, abrangendo romances, HQs, jogos de RPG e diversas outras expressões da cultura geek brasileira. No centro da trama, está a saga de Orion Drake, um Cavaleiro da Luz consumido pelo desejo de vingança contra o próprio pai, cuja traição mergulhou sua linhagem em desgraça, tudo isso em meio ao avanço da Tormenta, uma tempestade sangrenta e corruptora que devasta tudo ao seu redor.
Essa narrativa épica é traduzida com uma abordagem musical cinematográfica, que mescla o peso do Metal com arranjos orquestrais exuberantes, conferindo ao disco uma atmosfera de grandiosidade e imersão dramática digna das grandes trilhas sonoras do gênero fantástico.
Fonte: Hell Yeah Music Company
Commentaires