Overtop estreia em estúdio com maturidade, honestidade e mensagens poderosas de força e ressignificação
- Beto Conde
- 17 de jun.
- 3 min de leitura
Em um mundo cada vez mais barulhento, onde a dor é frequentemente sufocada por distrações e aparências, a Overtop escolhe o caminho inverso: o de escancarar feridas e dar voz à vulnerabilidade. Seu álbum de estreia, autointitulado e lançado em 2024, traz um olhar sincero sobre as angústias humanas, um reflexo de quem encara o próprio abismo no espelho, sem filtros, disposto a questionar, sangrar e, acima de tudo, transformar-se. Cada faixa carrega um peso emocional genuíno, abordando temas como solidão, vazio existencial, conflitos internos e a eterna busca por significado. Não há fórmulas fáceis, nem verdades enlatadas: há apenas honestidade.

Formada pelo vocalista e guitarrista Andersong Gregório, o guitarrista Jo Campos, o baixista Rodrigo Faveri e o baterista Tuti Fachin, a Overtop é moldada pela energia crua do grunge, as tensões do post-grunge e a força do metal alternativo. Seu álbum de estreia revela com clareza a identidade do quarteto, ao mesmo tempo em que lança sementes para futuros caminhos promissores, inquietos e ainda em expansão.
O disco abre com "Powerless", uma faixa densa e direta, que apresenta com clareza o DNA da Overtop. Com ecos de Alice in Chains, Alter Bridge, Black Label Society e até Metallica, a banda não se limita a repetir fórmulas: usa essas referências como bússola para traçar seu próprio caminho. A identidade é forte e salta aos ouvidos logo nos primeiros minutos.
Em "Why", novas camadas se revelam. A banda incorpora melodias com mais ênfase, sem abrir mão do peso. A faixa estabelece um elo emocional com o ouvinte que vai além da compreensão racional da letra. É em sua intensidade que sua força se manifesta. "Insanity" acentua ainda mais o lado visceral do grupo. O instrumental explode com fúria, riffs marcantes e solos inspirados. Há também novas nuances nos vocais, com experimentações que ampliam a expressividade da faixa.
"Alone" muda o clima com uma carga emocional poderosa. Trata-se de uma semi-balada com alma grunge, guiada por um refrão comovente e construído para ser cantado em uníssono. Já "Bleak" é uma das faixas mais pesadas do disco, mergulhando fundo nas raízes do grunge. Suas estruturas não-lineares e imprevisíveis, somadas a um refrão marcante, criam um contraste interessante entre caos e catarse.
Com "Missing Light", a banda entrega uma sonoridade mais acessível, flertando com o metal alternativo contemporâneo. O refrão tem potencial radiofônico, mas sem abrir mão da autenticidade, não à toa, é uma das músicas mais ouvidas da banda nas plataformas digitais.
A faixa-título, "Overtop", se desenvolve de maneira envolvente. Cresce sem pressa, com uma progressão emocional que vai penetrando aos poucos, até atingir um clímax intenso, quase transcendental.
"3D" desacelera o andamento, mas mantém a agressividade. É uma das faixas mais pesadas do disco, mas sua força está na riqueza de camadas: o instrumental entrega profundidade e complexidade com elegância. "Pills" se aproxima do espírito do metal alternativo de bandas como System of a Down. Começa com melodias quase hipnóticas antes de explodir em energia e fúria.
"Widow Wifeless" aposta em riffs mais abertos e impactantes, daqueles que grudam de primeira. Embora mais direta, a faixa não sacrifica a densidade emocional e mantém a consistência da proposta do álbum. Em "Suspicion", a banda volta a investir numa construção gradual. A música cresce no tempo certo, com propósito e não por convenção, e quando explode, o faz com intensidade justificada, não por impulso.
"Time" encerra o disco com força e mistério. Possivelmente a faixa mais pesada do álbum, carrega elementos que soam como prenúncio do que a banda pode vir a explorar no futuro. Sua maturidade salta aos ouvidos e encerra a jornada com um sabor de continuidade, como se o disco fosse, acima de tudo, um ponto de partida, algo que, de fato, já está em execução: em 2025, a Overtop une forças ao renomado produtor Thiago Bianchi (Noturnall, Ready to be Hated, ex-Shaman) no Estúdio Fusão, onde gravará seu segundo álbum de estúdio. Que venha mais um grande disco!
Fonte: Hell Yeah Music Company
Comments